março 09, 2016

Dica de FIlme: As Sufragistas

Olá pessoal, tudo bem?
Ontem foi comemorado o Dia Internacional da Mulher e todo o mês é dedicado as mulheres e sua incansável luta por igualdade, e por isso, além das várias postagens dedicadas a data que irei fazer ao longo do mês, trago a resenha de um filme bem feminista.


Tive a oportunidade de ver esse filme na Universidade através de uma iniciativa de um grupo de mulheres ativistas, visto que o filme lançado ano passado, não teve espaço nas salas de cinema aqui da nossa cidade. A sessão ficou tão lotada que o filme foi exibido simultaneamente em dois auditórios e em duas sessões.



Sinopse: No início do século XX, após décadas de manifestações pacíficas, as mulheres ainda não possuem o direito de voto no Reino Unido. Um grupo militante decide coordenar atos de insubordinação, quebrando vidraças e explodindo caixas de correio, para chamar a atenção dos políticos locais à causa. Maud Watts (Carey Mulligan), sem formação política, descobre o movimento e passa a cooperar com as novas feministas. Ela enfrenta grande pressão da polícia e dos familiares para voltar ao lar e se sujeitar à opressão masculina, mas decide que o combate pela igualdade de direitos merece alguns sacrifícios.


O filme é baseado em um fato real que aconteceu no início do século XX, ou seja, é um acontecimento relativamente recente, mas que parece ter sido há muito mais tempo, numa época em que as mulheres só tinham dois direitos: o direito de não ter direito algum e o direito de não reclamar dos direitos quem tem. E é nesse contexto que conhecemos nossa personagem, Maud Watts, uma jovem de 24 anos, casada, que tem um filho de mais ou menos cinco anos e trabalha desde sempre em uma lavanderia na cidade de Londres. Ela é apenas mais uma das muitas mulheres que seguem o destino que a vida lhes oferece: o de cuidar do filho, do marido, da casa, trabalhar e entregar todo o seu salário para o marido administrar, além de ser explorada pelo patrão, afinal, as mulheres eram consideradas menos capazes, menos inteligentes, e por isso, trabalhavam mais e ganhavam menos que os homens. Além disso, as leis do Reino Unido eram, afinal, aplicáveis às mulheres, mas elas não eram consultadas ou convidadas a participar de seu processo de elaboração.


Essa triste realidade nos é apresentada logo no início do filme, mas também descobrimos que nessa época, mais precisamente em 1912 (ano em que se passa o filme), já há um movimento feminista atuando pacificamente, que existe há 50 anos, lutando para mudar as leis, com objetivo de oferecer direitos e justiça as mulheres daquele país. É nesse contexto que Maud conhece Violet, uma colega de trabalho que tem uma filha adolescente que também trabalha na lavanderia e esta já começa a sofrer os assédios do patrão. Violet é chamada para depor em uma espécie de referendo sobre o voto para as mulheres, mas em retaliação ela é espancada e quem a substitui é a própria Maud. Seu depoimento parece trazer luz e esperança as mulheres, mas acaba não surtindo efeito algum em benefício delas.


Maud, que até então seguia sua dura rotina, começa a observar o mundo a sua volta, a perceber que sua vida não parece fazer muito sentido, passa ouvir as mulheres do movimento e acaba se unindo a elas em busca de transformar uma realidade que até então lhe parecia imutável. Porém, há muito a perder e ela vai sofrer todas as consequências em nome da revolução, escolhas que vão ajudar a mudar o mundo.


O filme não foca apenas na Maud, apesar de a história centrar-se nela, há outras mulheres que também lutam e vivem em função da causa, maridos que apoiam, maridos que não apoiam, uma líder que é perseguida pela polícia e precisa viver escondida. E aqui, cabe destacar o papel da polícia que visa apenas acabar com as manifestações, usando de toda a violência e torturas para evitar que suas mulheres deixem de ser apenas esposas submissas para tornarem-se militantes, atuantes e protagonistas. Se formos comparar com o que temos vivenciado nos últimos tempos, não há muito o que diferenciar. A luta por direitos vem de longa data e quem são os que são contra? Aqueles que não querem perder seus privilégios. 


"As mulheres não devem exercer o julgamento em assuntos políticos. Se as deixarmos votarem, será uma perda da estrutura social."


Apesar desse ambiente pesado que permeia o enredo, o filme não chega a ser tão cruel como eu imaginava que seria, mas há cenas fortes de tortura, de violência e de muita emoção. É impossível não se envolver com as cenas e torcer para que as personagens lutem, gritem e não desistam. Em muitos momentos eu me peguei querendo dizer "é agora, fale, lute!!!". O desejo de que aquelas vozes fossem ouvidas era enorme, e eu me via torcendo por elas, pois eu via nossa luta de hoje (a luta dos jovens, dos negros, das mulheres, dos gays, etc), que não é nada se comparada com a daquelas mulheres, tendo em vista a conjuntura política e social da época, mas que tem sua razão de ser.


Nós quebramos janelas, incendiamos coisas... pois a guerra é a única língua que os homens entendem.


E é interessante notar que isso se iniciou no final do século XIX e perdura até hoje, pois há países onde mulheres ainda lutam pelo direito de votar, como é o caso do Kuwait e Arábia Saudita.

O desfecho é muito forte, é como uma ultima cartada, aquela chance única de fazer tudo valer a pena, e o maior medo dos que tentam evitar que a revolução aconteça. E o mais legal é que no final nós vemos imagens reais do que acontece em seguida. Uma imagem que mostra o poder da união, o poder que surge quando se luta por uma causa, que emana do povo, nesse caso das mulheres. 

Imagens reais do movimento sufragista

É difícil falar sobre o filme sem dar spoilers, pois há muitas reflexões durante todo o filme. Há falas e cenas que mereciam ter sido citadas aqui, mas que eu prefiro que vocês acompanhem assistindo o filme, dentro do contexto em que elas ocorrem, sendo uma das coisas que mais gostei no filme, que foi muito bem feito, no geral. Uma pena que tenha tido pouca repercussão, afinal é um filme que expande nossas mentes, e sabemos que há um mundo machista e patriarcal tentando evitar que algumas classes tenham vez e voz, tal como retrata tão bem esse filme.

E aí, alguém já viu esse filme? Quem gosta de história, de movimentos sociais, de feminismo, etc, não pode deixar de ver.

Até a próxima!
 
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