julho 29, 2016

A Droga do Amor

Olá pessoal, tudo bem?
Hoje pesquisando em meus arquivos, descobri um texto antigo, escrito em 2011, em um momento conturbado da minha vida, que acabou refletindo nas minhas decisões futuras.


É um pouco metafórico, mas acho que a ideia fica bem clara e eu compartilho com vocês na íntegra e sem fazer nenhuma alteração. Espero que gostem.

"Eu precisava desabafar publicamente, pois dizem que o começo da cura está em assumir o vício. Então, eu confesso: Sou viciada!

Essa droga entrou na minha vida há 13 anos. Eu a descobri através de uma amiga em comum. Passamos a conviver cada dia mais, e eu não queria larga-la em momento algum. Fiquei a passar noites na pracinha, desfrutando da sua doce e maravilhosa companhia. No começo, os amigos que nos apresentou fizeram parte do nosso convívio, mas com o tempo, nossa relação se tornou mais séria e muitos amigos se afastaram. Quando eu já não conseguia mais viver sem ela, passamos a ser só nós.

Por mais de dois anos tivemos uma relação de altos e baixos, mas nunca fiquei um só dia sem pensar nela, sem vê-la em qualquer lugar que ia, nem de lembrar do seu perfume inebriante. Foi quando percebi que o vício havia tomado conta de mim. E já era tarde demais.

Resolvi me desvencilhar dessa droga que corroeu a minha vida, me afastou dos amigos, da família. Mesmo porque ela já havia tomado a vida de outras pessoas também, e eu não queria continuar me sentindo um nada, sendo esquecida por tudo e por todos. Era como uma prisão sem grades, pois eu queria estar presa a ela, mesmo sabendo que estava definhando, me tornando uma pessoa infeliz e amarga.

Mas não consegui ficar muito tempo longe, pois volta e meia, lá estava ela, me olhando, me chamando, me arrepiando até a alma. Quem poderia resistir a tão grande desejo e sedução provocado por algo tão bom? A sensação de estar com ela, era única, nunca sentida com outras drogas.

Eu não via a hora de sentir seu gosto na minha boa, seu cheiro, o toque em meus dedos, a sensação de êxtase que só ela me causava. Mas quando acabava, era como se o mundo tivesse acabado junto, pois não existia mais nada, só restava seu cheiro impregnado no meu corpo, no cabelo, nas roupas, só restava um gosto amargo na boca. Uma sensação de abandono e de ter sido usada como um jornal velho.

Logo, eu me dava conta que não podia mais fazer aquilo, não queria mais encontrar com ela e fugia de todos os lugares onde poderia encontra-la. Não durava muito e lá estava ela novamente. Foi assim, por 10 longos anos. Eu vivendo nessa agonia de me deleitar em pequenos instantes de puro prazer e conviver dias, às vezes meses, me contorcendo em um doloroso processo de abstinência.

Um belo dia resolvi mudar e dei um basta para a droga. Coloquei na minha cabeça que não precisava dela para ser feliz e que tomaria de volta a vida que ela me tirou. Passei a me dedicar mais a mim mesma, comecei a ler, fotografar e trocar ideias com alguns poucos, mas novos e bons amigos. Amigos que não tinham nenhuma relação com meu passado. E fui feliz por 8 meses. Ainda me sentia vazia, incompleta, mas entendia que era porque minha vida não era plena de outras coisas, como um bom emprego, um namorado, filhos etc. E continuei acreditando que em breve todas essas coisas chegariam para mim, assim como chega a primavera todos os anos.

E foi aí que ela entrou novamente na minha vida. Redescobri-a através das redes sociais. Lá estava ela sorrindo pra mim, como se me implorasse para me ter novamente. Eu resisti, ignorei e fingi que isso não estava acontecendo. Enfureci-me comigo mesma, percebendo o quanto ela ainda mexia comigo, com meus brios, com meu ego, com meu desejo, que perto dela, parecia insaciável. Eu me sentia vazia e de repente ela veio preencher um espaço que sempre esteve guardado dentro de mim, destinado a ela.

Mas ela não era mais a mesma pra mim. Não tinha o mesmo sabor, nem o mesmo cheiro, ainda assim, a sensação de êxtase, de ir ao céu só em tocá-la não mudou. Não posso explicar como me sinto em relação a ela agora, mas ela consegue me fazer feliz, como se a possibilidade de realização de todos os meus sonhos dependesse única e exclusivamente dela. E mesmo sabendo que não, eu já não enxergo de outra forma. Talvez a droga tenha afetado minha visão e minha percepção de um mundo aquém do seu estímulo, do seu delírio. Em contrapartida, me sinto fraca, doente, triste, com vontade de morrer, sabendo que preciso, mas que não posso viver sem ela.

Existiria uma cura para o meu vício? Talvez uma vacina que me mantenha imune aos seus encantos? Pois não quero morrer por ela, seria desumano demais, visto que ela me deu a vida, mesmo levando-a consigo quando eu já não tinha forças para suportar a dependência. Uma droga que tem nome de conquistador, que me levou ao céu e ao inferno. Que realizou sonhos e os transformou em pesadelos. Que me fez ter por ela o único sentimento verdadeiro e bom que existe no mundo... me viciou. E esse vício tem sido minha ruína, pois já não consigo lutar contra, ao mesmo tempo que não quero continuar numa batalha que poderá me tirar o pouco de dignidade que ainda me resta. Preciso de ajuda, mas não sei de onde ela virá, pois ainda não inventaram a cura para esse vício... o amor."

Até a próxima!
 
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