setembro 25, 2016

Dica de Filme: Aquarius

Olá pessoal, tudo bem?
Hoje, vou falar sobre um filme que fui ver semana passada, e que está envolto em algumas polêmicas, mas que (e talvez por isso) tem conquistado muitos fãs.


Aquarius é um filme nacional que ficou bem conhecido no festival de Cannes, que concorreu a palma de ouro no mês de maio, quando seus idealizadores levantaram cartazes em protesto ao Impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Apesar de ter sido bastante aplaudido e elogiado pela crítica internacional, o filme acabou não levando o prêmio, mas deixou bastante clara sua mensagem.


Sinopse: Clara (Sonia Braga) tem 65 anos, é jornalista aposentada, viúva e mãe de três adultos. Ela mora em um apartamento localizado na Av. Boa Viagem, no Recife, onde criou seus filhos e viveu boa parte de sua vida. Interessada em construir um novo prédio no espaço, os responsáveis por uma construtora conseguiram adquirir quase todos os apartamentos do prédio, menos o dela. Por mais que tenha deixado bem claro que não pretende vendê-lo, Clara sofre todo tipo de assédio e ameaça para que mude de ideia.
Não recomendado para menores de 16 anos

O filme se inicia  no ano de 1980, mostrando um pedaço da vida naquela período, com Clara ainda jovem, recém recuperada de um câncer de mama, comemorando os 70 anos de sua tia, uma mulher a frente do seu tempo, que conquistou muita coisa em sua juventude. Esse momento do filme vai dar início a mudança da passagem do tempo, nos levando a várias reflexões que vão surgir no decorrer do filme, a partir do significado de cada detalhe presente em cena.


Como o filme retrata não apenas a história de Clara, nossa protagonista, interpretada brilhantemente pela Sonia Braga, mas também o apartamento em que ela vive, nós podemos ver o trabalho incrível da cenografia, que nos fez enxergar a transição do tempo, a partir dos móveis e objetos dispostos pelo ambiente, mostrando que o “velho” e o “novo” coexistem, se complementam e resistem ali, assim como o próprio Aquarius, o prédio que se mantém firme em meio aos edifícios modernos e de luxo, cumprindo naturalmente sua função.


E a Clara, vem a ser a personificação disso tudo, afinal, ela é uma senhora que leva consigo as marcas do tempo e das transformações ambientais que estão constantemente  acontecendo a sua volta. Apesar de ter sofrido um câncer, de estar aposentada, não se trata de uma velhinha que não consegue desapegar de suas coisas e daquela vida que ela tem desde sempre, ela é uma mulher forte, lúcida e que percebe o mundo ao seu redor, tendo se adaptado muito bem a ele. Isso fica muito claro quando o enredo mostra ela usando um iPhone ao mesmo que ouve seus discos de vinil, aceitando naturalmente o filho homossexual, dentre outras coisas que exprimem sua capacidade de se reinventar enquanto pessoa, ou seja, ela, assim como o Aquarius, não precisam ser substituídos por um modelo mais novo, já que esse ainda “funciona” bem.



Em contrapartida, a trama trabalha várias outras questões, como o papel da especulação imobiliária na transformação dos lugares, da política, das oligarquias e da luta de classes, dentre muitas analogias que surgem e que enchem nossa mente de reflexões. O diretor não entrou na discussão, ela apenas jogou um centelha deixando que nossas mentes trabalhassem e absorvessem cada um dos vários problemas sociais que vão passando em nossa frente, através dos diálogos que acorrem entre os personagens, que são pessoas tão reais quanto nós, quanto seus vizinhos, amigos e parentes. 


As relações que se estabelecem durante o filme mostram muito bem a fragilidade e importância das relações familiares, dos círculos de amizade e de negócios, sob o pano de fundo do embate entre uma construtora que tenta a todo custo tirar Clara da jogada, enquanto ela está lá, resistindo. E essa talvez seja a palavra-chave desse filme... #Resistir.


Além de retratar a cidade de Recife de uma forma bem poética, quero ressaltar aqui a maravilhosa trilha sonora do filme, que vai de Roberto Carlos a Queen, ela nos leva a um passeio pelos anos 70 e 80, selecionada a dedo e de uma qualidade ímpar. Afinal, a personagem Clara é uma crítica de música e seria muito injusto com ela, se fosse diferente. Torcendo por um CD com essa trilha sonora, já!


Enfim, já falei demais, o filme é brilhante, atual e cabe perfeitamente no contexto atual do país. E como li em uma das críticas da internet, ele retrata nosso país em vários aspectos, por isso eu recomendo que todos o vejam, com sua mente aberta e tentando captar cada detalhe, cada frase, cada expressão, pois todas elas estão ali para lhe dizer alguma coisa.

 
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