setembro 05, 2015

Resenha: So Por Hoje e Para Sempre

Olá pessoal tudo bem?
Hoje, trago para vocês a primeira resenha da Maratona Setembro Nacional, que por coincidência, foi um livro que comecei a ler no finalzinho de agosto e conclui a leitura a tempo de encaixá-lo nas postagens desses mês.

O livro da vez é Só Por Hoje e Para Sempre, o diário que Renato Russo escreveu durante seus 29 dias na reabilitação. Um relato cheio de sentimentos profundos e verdadeiros do líder da Legião Urbana. Uma obra póstuma, narrada pelo próprio, descrevendo em detalhes todo o programa que ele seguiu durante o tempo em que esteve internado para tratar a dependência química de álcool, cocaína e tranquilizantes em uma luta pela vida, após quase ter se deixado vencer pelo vício e pela sua depressão latente.


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Sinopse: Entre abril e maio de 1993, Renato Russo passou vinte e nove dias internado numa clínica de reabilitação para dependentes químicos no Rio de Janeiro. Durante esse período, o músico seguiu com total dedicação os Doze Passos, programa criado pelos fundadores dos Alcoólicos Anônimos, que incluía um diário e outros exercícios de escrita. É este material inédito que vem à tona depois de mais de vinte anos em Só por hoje e para sempre, graças ao desejo de Renato de ter sua obra publicada postumamente. Entremeando as memórias do líder da Legião Urbana com passagens de autoanálise e um olhar esperançoso para o futuro, este relato oferece a seus fãs, além de valioso documento histórico, um contato íntimo com o artista e um exemplo decisivo de superação.



Título: Só Por Hoje e Para Sempre: Diário do Recomeço | Autor; Renato Russo | Ano: 2015 | Gênero: Biografia, Não-Ficção | Editora: Companhia das Letras

Avaliação:

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Quem acompanhou a trajetória da Legião Urbana, lembra das canções únicas, com letras ricas, profundas e cheias de sentimentos diversos, todas criadas pela mente brilhante de Renato Russo, que buscava inspiração em momentos de sua própria vida e de pessoas próximas, o que encantava o público que logo se identificava com os versos tão verdadeiros e cheios de vida que sua voz marcante cantava.

“No fundo achava muito romântico e até heroico estrar me destruindo assim.” 

A Legião Urbana marcou uma geração, que era chama de Coca-Cola, por ser talvez, a geração que mais sofreu influência do período da globalização, quando essa atingiu seu apogeu aqui no Brasil no final da década de 1980 e início da década de 1990. Uma geração marcada pela rebeldia, pela busca da liberdade e conhecimento de mundo e, o Renato, junto com a Legião se tornou a voz desses jovens, pois ele tinha uma mente inquieta e repleta de pensamentos que queria expressar para o mundo, especialmente por se sentir diferente em vários aspectos, desde o fato de ser muito culto e inteligente, mas principalmente por ser homossexual. Mas isso é uma outra história...

“E me fechei, me isolei, por não suportar a intensidade dos meus sentimentos e não querer ser incompreendido e ridicularizado.” 

O livro apresenta algumas informações sobre o tratamento a qual o Renato se submeteu, inserindo algumas informações e notas de rodapé, além de manter em sigilo os nomes de várias pessoas citadas, a fim de proteger suas identidades, mas é claro que pelo contexto, é possível reconhecer algumas.

“A melhor coisa que um bêbado conhecido pode fazer é se tornar um alcoólatra anônimo.”

Não é um livro cheio de histórias, de altos e baixos, reviravoltas e fatos marcantes, mas a partir dos relatos, é possível traçar um perfil do Renato, onde nós passamos a vê-lo como alguém muito frágil, carente, vulnerável a qualquer forma de fuga que o fizesse se sentir alguém normal. E apesar de possuir uma personalidade forte, as vezes ele se deixava levar para se sentir aceito, o que o levou ao ponto onde chegou.

“Ainda vejo o mundo e a vida com apreensão e desconfiança, mas agora sei que isto também passará.” 

Por ser uma pessoa dotada de muita inteligência, ele se sentia muitas vezes deslocado e enxergava todos os problemas do mundo e das pessoas que estavam ao seu redor, o que o tornava alguém extremante pessimista e sem nenhuma perspectiva do que seria um "final feliz" para si. E isso, o levou a desejar a morte, afundando na bebida e em drogas, tudo isso sendo ampliado após o fim de um relacionamento que o abalou muito.

“Sempre me achei o máximo, mas agora tenho uma boa razão para isso! Estou voltando a ser eu mesmo.” 

Durante o tratamento, ele precisa escrever esse diário relatando tudo que fez, tudo que sentiu e por algumas vezes, responde a algumas tarefas, onde precisa rever os pontos mais frágeis e tentar corrigi-los na próxima oportunidade. É um exercício diário que acompanhamos, vendo sua evolução e resultados do tratamento. E o mais legal é ver o reflexo disso nas canções do disco O Descobrimento do Brasil, sexto álbum da Legião Urbana, lançado em 1993, após seu retorno aos palcos. Por isso, eu selecionei três músicas nessa playlist para que vocês ouçam e tentem perceber, seja nas entrelinhas ou não.


A primeira das músicas é Vinte e Nove, que como vocês devem perceber, se refere aos dias em que o renato esteve na reabilitação e trás uma reflexão sobre sua vida antes e após o tratamento.

“Perdi vinte, vinte e nove amizades, por conta de uma pedra em minhas mãos. Me embriaguei morrendo 29 vezes, estou aprendendo a viver sem você.”

A segunda, chamada Os Anjos também se refere a esse momento de reclusão, quando ele precisa de desligar do mundo externo e se reconectar consigo.

“Hoje não dá, hoje não dá, vou consertar minha asa quebrada e descansar”

E a terceira, é talvez a mais cheia de referências a esse momento, visto que, como citado no livro, há um livreto da Narcóticos Anônimos que os internos recebem, onde há uma reflexão que sugere: "Só por hoje meus pensamentos estarão concentrados na minha recuperação, em viver e apreciar a vida sem drogas", entre outras frases de incentivo, e a música é exatamente sobre isso.

“só por hoje eu espero conseguir, aceitar o que passou e o que virá. Só por hoje vou me lembrar que sou feliz.”

“Não sei onde estou indo, só sei que não estou perdido. Aprendi a viver um dia de cada vez.”

“Só por hoje, ao menos isso eu aprendi.”

Talvez, tenha sido um pouco tarde, talvez o Renato tenha se entregado, talvez, o mundo como é não fosse suficiente para ele, talvez sua partida tenha sido uma resposta a todos que o feriram, talvez tenha que ter sido assim...

Falando sobre o livro, a edição está belíssima, apesar de ser bem curto, apenas 160 páginas, a editora se preocupou em manter várias passagens originais dos documentos, com a letra e os desenhos feitos pelo próprio Renato, bem como o texto integral do diário. Não encontrei erros e a capa é linda.

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Espero que tenham gostado da resenha. talvez muitos sejam muito jovens para ter alguma sentimento pela banda, mas eu que cresci sob as músicas da banda e a voz do Renato, me comovi muito com essa pequena parte de sua história.

Como sempre, essa resenha pode ser lida no Skoob e no Orelha de Livro.

Até a próxima!


 
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